Produções discursivas e a sociedade
- academiaalhgim
- 30 de mai.
- 3 min de leitura

(*) Acadêmico José Pereira da Silva
Fundador e Titular da Cadeira Perpétua nº XXVII
Patrono: Frei José Carlos de Jesus Maria do Desterro
A literatura é uma instituição social e uma das muitas manifestações da cultura. É uma realidade criada pela sociedade a partir da linguagem, pois é feita de palavra. O escritor é um membro da sociedade , e como tal é alguém em quem estão transitando o saber da sociedade, ou seja, quando ele fala, não fala a partir do nada.
A literatura é uma criação social e se faz a partir do imaginário que circula coletivamente. Esse imaginário é trabalhado ficcionalmente pelo escritor, e o resultado é o texto literário. O imaginário social se faz em torno de questões políticas, econômicas, filosóficas, religiosas e de tudo o mais que compõe a vida social.
É preciso afirmar que as relações entre literatura e sociedade são complexas. É preciso levar em conta que um elemento próprio da estruturação das obras, cuja origem social não transparece de imediato. Há, portanto, que fazer um desvio em relação à arte; há que procurar nela não apenas pistas que se dão como provas da sua profunda inserção social, mas, sobretudo, uma dinâmica de intercâmbios e eventuais homologias entre as estruturas sociais e artísticas, que constituirá propriamente o campo de interesse da crítica.
Norbert Elias[i] afirma que a obra literária não é apenas um artefato de linguagem em condições de refletir, reproduzir ou espelhar as características, sejam superficiais ou profundas, da realidade, como também é capaz de atuar sobre ela, numa dimensão de afetividade ( de ação e pensamento) que talvez aproxime os escritos dos sociólogos.
A arte acrescenta, melhora ou expande a nossa consciência da realidade (conforme o postulado tradicional da crítica de orientação sociológica), bem como influi na nossa capacidade de agir sobre ela, orientado para o presente e o futuro. Diante disso fala-se em utopias literárias gênero de obras que nos fazem pensar num futuro qualquer. A maneira como o escritor, ao falar do seu tempo, antecipam preocupações e visões do futuro que nos ajudam a compreender os processos da vida coletiva.
Comparar tendências de abordagens do texto literário na sua relação com os aspectos sócio-históricos é, em uma certa medida, comparar tendências em abordar o mundo , em que a nossa visão acerca da humanidade é que nos situa em algum parâmetro, de forma que assumiremos sempre uma posição de consentimento, questionamento ou recusa ao “como” os elementos simbólicos, éticos ideológicos estão sendo utilizados por grupos como estratégias para excluir, marginalizar pessoas ou comunidades.
De como o literário constrói o social e, dessa maneira, percebemos a formalização do conteúdo sob outro ponto de vista, “fundindo texto e contexto numa interpretação dialética integra”.
O escritor é um membro da sociedade, falando para a sociedade, sobre o que acontece na sociedade, partindo da certeza de que os leitores de sua obra estão na sociedade. O escritor, de uma forma ou de outra, está traduzindo o que circula consciente ou inconscientemente na coletividade, aquilo que está presente claro ou subliminarmente no tecido social. Sempre o escritor está inserido no contexto da sua sociedade, no contexto da sua realidade. Quer dizer, entre literatura e sociedade existe uma relação estreita, porque a literatura é um produto da sociedade revelando a sociedade.
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1. ELIAS, Norbert. Cómo pueden las utopias científicas y literárias influir en
el futuro? IN: WEILER, H.G. (Org.). Figuraciones en proceso. Trad.
Weiler et. Ali., Santafé de Bogotá, Fundación Social, 1998.
2. CÂNDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade; estudos de teoria e história
Literária, SP, Ed. Nacional, 1985.
(*) Professor, Doutor José Pereira da Silva, residente em Taubaté, SP.

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