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AUTORRESPONSABILIDADE


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Acadêmico, Doutor José Pereira da Silva

Taubaté, São Paulo.


Vivemos numa época de fuga das responsabilidades e culpabilização do outro. Percebe-se um alijar de culpas entre pais e filhos, marido e mulher, entre políticos e cidadãos, sem

que ninguém assume e parta de seus erros.


Sem responsabilidade ou melhor autorresponsabilidade, não se cresce como pessoa e nem como sociedade. A autorresponsabilidade implica um compromisso de assumir um determinado peso que obriga a uma resposta. A vida cotidiana nos pede respostas vivenciais. Certo dia um jornalista perguntou a Madre Teresa de Calcutá: “Madre, o que é que não está bem neste mundo?”, ela calmamente respondeu: “Aquilo que não está bem somos eu e o senhor”. O que não está bem é fecharmos os olhos diante da realidade e eximir-se da responsabilidade.


É pensar erroneamente que não assumir responsabilidades é o caminho para não se sentir culpado e fugir das escolhas. A autorresponsabilidade exige que sejamos próximos de nós mesmos, que vivamos a realidade pessoal sem fugir, sem culpar sempre os outros.


A autorresponsabilidade é sempre levar um pouco mais ao alto de nós aquilo que vive. Ela requer a desordem que existe dentro de nós, se libertar das banalidades e de reencontrar a dignidade humana de persistir. É muitas vezes ir contra a corrente. Autorresponsabilidade de muitas vezes fazer os outros sofreram através do rancor e do desamor.


A autorresponsabilidade exige domínio de nós próprios, mesmo nas contrariedades da vida, e quando ajudamos o outro a ter domínio de si próprio.


O filósofo Emmanuel Lévinas (1906-1995) nos fala da instauração de uma relação com o outro e qualquer outro pelo qual eu sou responsável sempre e em todo lugar, independentemente de qualquer ligação prévia e de sua própria reação de acolhida ou de rejeição. Responsabilidade como vontade de proximidade. Autorresponsabilidade como serviço, como resposta a necessidade do outro. A autorresponsabilidade se reveste de uma acepção perturbadora e desafiadora. Vai além da responsabilidade identitária.


A autorreponsabilidade é a que o eu exerce não em relação consigo e com seus prolongamentos (pais, filhos, amigos etc), mas em relação ao outro enquanto outro, que o eu não escolhe, mas pelo qual é escolhido e nos convida a sair de si. Responsabilidade que não escolhemos, mas à qual somos chamados. Como disse o filósofo e escritor Maurice Blanchot (1907-2003) essa responsabilidade por outros é sem reciprocidade pois muda o estatuto do eu. O mal muitas vezes aparece como responsabilidade declinada, ou seja, irresponsabilidade que é verdadeiro princípio da barbárie e do desaparecimento do humano.


A autorresponsabilidade implica sempre a responsabilidade diante de Deus, a

responsabilidade do próximo e a responsabilidade pelo mundo.


(*) (*) Professor, Doutor José Pereira da Silva. Acadêmico Fundador e Titular da Cadeira Perpétua nº XXVII, da Academia de Letras, História e Genealogia da Inconfidência Mineira. Patrono: Frei José Carlos de Jesus Maria do Desterro.

 
 
 

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