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Limites e ilusões: regressar com densidade a si próprio.

(*) Acadêmico José Pereira da Silva


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     A pessoa que sinceramente deseja empreender o desafio da experiência da vida é importante começar e regressar a si próprio.

            É preciso regressar e habitar o mundo interior e encontrar aí sua densidade humana. A vivência humana em grau de profundidade e autenticidade implica percorrer o caminho do conhecimento de si. Caminho que exige um encontro inevitável com suas áreas de sombra.

            Esse caminho de autoconhecimento consiste numa descida para aquelas partes que são ocultas e inconscientes para nós próprios. O ser humano vive angustiado e se esquece que tem um tesouro dentro de si mesmo, porém busca-o em lugares distantes. Lembra as palavras do poeta Mário Quintana (1906-1994) quando diz: “Quantas vezes a gente, em busca da ventura, procede tal e qual o avozinho infeliz: Em vão, por toda a parte, os óculos procura tendo-os na ponta do nariz”. É preciso trabalhar a interioridade e o coração. É necessário deixar-se alcançar através das buscas incessantes em seu mundo interior.

            Muitas pessoas no frenesi da sociedade acabam por desertar-se de si mesmas; mergulham no imediato do mundo e se afastam de si mesmas. Passam a encarar sua interioridade como algo estranho e inacessível.

            A pessoa em sua unitotalidade de corpo, espírito e alma deve buscar a integração. A vivência da interioridade implica essa integração e harmonia.

            É sempre necessário um regresso ao centro de nós mesmos e de encontro à verdade de si.  É empreender uma viagem profunda ao nosso ser da qual muitos tem medo, pois se acostumaram numa vivência superficial de si mesmos. É uma jornada para se chegar ao fundo de nós e encontrar nossa singularidade.

            É um caminho de aceitação desse mundo interior para sermos livres naquilo que marca numa singularidade. Singularidade com tudo que cada pessoa traz dentro de si. Um encontro sincero com a própria humanidade. Num mundo das aparências e do instantâneo que muitas vezes levam as pessoas a não serem verdadeiramente elas próprias.

            É importante ter humildade para descer até à verdade de si, até a interioridade. Atingir à verdade de si é um caminho desafiador de liberdade. Aceitar e compreender esse mundo interior sem medos. É se desvencilhar de papéis que não nos competem. Perceber que caíram todas as máscaras. Como escreveu o ensaísta libanês Khalil Gibran (1883-1931): “Benditos, benditos ladrões que roubaram as máscaras. Foi assim que enloqueci. E encontrei na loucura a liberdade e a salvação: liberdade da solidão e salvação da compreensão, porque aqueles que nos compreendem subjugam sempre alguma coisa de nós”.

            É iniciar um sério trabalho sobre nós mesmos deixando de lado imagens ideais. Encarar os dramas interiores sem ilusões, é trabalhar o material existencial. É enfrentar a realidade de desafios e possibilidades. É se olhar de forma realista e não irreal. Feridas e dramas que precisam ser vistas e nomeadas.

             É percorrer uma trajetória de qualificar as experiências vividas. Nossa sociedade comete muitas violências simbólicas que prejudicam a experiência autenticamente humana. Implica dar densidade real a vida num mundo das virtualidades e das maquiagens da existência cotidiana.

            Esse mergulho no interior exige encarar nossa criaturalidade e finitude. Como nos lembra o escritor francês Charles Péguy (1873-1914): “Porém, quem não caiu não será levantado; e a quem não está sujo, ninguém limpará”.

            O filósofo Paul Ricoeur (1913-2005) analisando Édipo de Sófocles nos diz que o drama consiste que o homem que ele amaldiçoou pelo crime é ele próprio, e que ele precisa reconhecer isso.

            Num mundo de tantas ilusões e simulacros é fundamental conhecer, reconhecer e mergulhar no mundo interior para resgatar o homem perdido. Esse homem precisa se reconciliar consigo para regressar à vida autêntica. Não pode se refugiar nas ilusões que cria é enfrentar a tarefa do paradoxo do Górgia, de Platão: “Em que escapar ao castigo é pior que sofrê-lo”.

            É urgente trazer à luz essa interioridade com seus paradoxos e desafios existenciais. É preciso reconhecê-lo e chama-lo pelo nome. Nomear o que se sente é um passo importante. É uma aventura humana desafiadora e fascinante!

 

(*) Acadêmico, Professor, Doutor José Pereira da Silva.

Fundador e Titular da Cadeira Perpétua nº XXVII- Patrono: Frei José Carlos de Jesus Maria do Desterro

 
 
 

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